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Lula, os “golpes” e a memória seletiva

Publicada em: 04/09/2025 16:15 -

Durante o lançamento do programa “Gás do Povo”, em Belo Horizonte, nesta quinta-feira, 04/09, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a insistir na tese de que o dia 8 de janeiro representou uma “tentativa de golpe”. No evento, pediu que a sociedade e seus apoiadores se mobilizassem contra um projeto em discussão no Congresso que prevê anistia a condenados por participação nos atos daquela data.

"O Congresso tem ajudado o governo, o governo aprovou quase tudo que o governo queria, mas a extrema direita tem muita força ainda. Então, é uma batalha que tem que ser feita também pelo povo. Então, o que eu queria pedir a vocês é isso, é que vocês têm um compromisso. Da mesma forma que eu disse o seguinte: o Brasil só tem um dono que é o povo brasileiro, as comunidades tem o melhor representante que são vocês” Lula aos apoiadores.

É evidente que depredar patrimônio público merece punição, assim como qualquer ato de violência. Mas transformar esse episódio em bandeira permanente de mobilização política soa mais como estratégia de sobrevivência do que preocupação real com a democracia. O problema é a memória seletiva. Lula fala em “golpe” olhando para Brasília, mas ignora golpes muito mais profundos que corroeram os cofres públicos e atingiram diretamente milhões de brasileiros.

Golpe foi o desvio bilionário contra os aposentados, revelado recentemente, em que R$ 9 bilhões simplesmente desapareceram, fruto de fraudes e má gestão. Golpe foi a anulação em série das condenações de quase todos os envolvidos em escândalos históricos, Mensalão, Petrolão, Lava Jato, Correios. Processos que custaram anos de investigações, milhões de reais em recursos públicos e que, no fim, foram esvaziados em nome de tecnicalidades jurídicas.

É curioso notar: quando os crimes afetam diretamente o bolso da população, o discurso de Lula não tem a mesma força. Não há convocações para mobilização popular contra os corruptos que sangraram estatais, fundos de pensão e aposentadorias. Não há apelos inflamados contra os esquemas que enriqueceram partidos, empreiteiras e políticos às custas do cidadão comum. Esses capítulos, convenientemente, são tratados como “página virada da história”.

O governo prefere manter a retórica em torno de um “golpe” de algumas horas em Brasília, ignorando os golpes sistemáticos que durante décadas sugaram o país. O resultado é claro: a sociedade é estimulada a acreditar que a maior ameaça à democracia foi a depredação de vidraças e móveis no Congresso, quando, na prática, os verdadeiros ataques ocorreram em gabinetes e diretorias de estatais, longe das câmeras, mas muito mais nocivos à vida do povo.

No fim, o brasileiro continua pagando a conta. Paga mais caro no gás, na comida, na energia. Paga pela aposentadoria desviada. Paga pelos buracos deixados pela corrupção. E segue ouvindo discursos inflamados que servem mais para dividir e mobilizar eleitores do que para encarar os problemas estruturais do país.

Lula pode repetir quantas vezes quiser a palavra “golpe” quando fala do 8 de janeiro. Mas a verdade é que os maiores golpes contra o Brasil não foram dados por manifestantes exaltados em Brasília, foram aplicados por aqueles que, de terno e gravata, transformaram a máquina pública em caixa particular.

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